Hipercolesterolemia familiar (HF) é uma condição genética e hereditária caracterizada por níveis elevados de colesterol desde o nascimento do indivíduo, especificamente da fração LDL (Low-Density Lipoprotein), popularmente conhecida como “colesterol ruim”.
Diferente do colesterol alto adquirido ao longo da vida, relacionado a hábitos alimentares inadequados e sedentarismo, a HF é uma desordem que acompanha o indivíduo por toda a vida, exigindo manejo contínuo para prevenir complicações cardiovasculares graves.
Estima-se que 1 a cada 250 pessoas no mundo tenha a forma heterozigótica da doença, tornando-a uma das desordens genéticas mais comuns. Apesar disso, a grande maioria dos portadores permanece sem diagnóstico, o que representa um significativo problema de saúde pública.
Para entender a HF, é preciso primeiro compreender o que é o colesterol e como ele é processado pelo organismo. O colesterol é uma substância gordurosa essencial para a produção de hormônios, vitamina D e componentes das membranas celulares.
No entanto, quando em excesso na corrente sanguínea, ele pode se depositar nas paredes das artérias. O LDL-C é a principal lipoproteína responsável por transportar o colesterol do fígado para os tecidos. Em condições normais, as células do fígado possuem receptores que “capturam” o LDL-C do sangue, retirando-o da circulação.
A hipercolesterolemia familiar é causada, na maioria esmagadora dos casos, por uma mutação em um dos genes responsáveis pela produção ou funcionamento desses receptores de LDL no fígado. As mutações mais comuns ocorrem nos genes LDLR, APOB e PCSK9.
Quando esses genes não funcionam corretamente, o fígado perde a capacidade de remover o LDL-C do sangue de forma eficiente. Consequentemente, o nível de colesterol LDL se acumula progressivamente na circulação, levando a níveis elevados e crônicos.
Existem duas formas principais da hipercolesterolemia familiar:
Um dos grandes desafios da hipercolesterolemia familiar é que, por muito tempo, ela pode ser uma condição silenciosa. A elevação do colesterol alto não causa dor ou sintomas perceptíveis, mas os danos ao sistema cardiovascular estão em andamento de forma lenta e progressiva.
No entanto, existem sinais clínicos característicos que servem como alerta:
É crucial destacar que a ausência desses sinais visíveis não descarta a doença. Muitos portadores da forma heterozigótica não os apresentam, e o primeiro sinal de alarme pode ser um evento cardiovascular prematuro.
Além disso, a presença de histórico familiar de colesterol alto ou doenças cardíacas em idade jovem (homens antes dos 55 anos e mulheres antes dos 65 anos) é um dos pilares para suspeita da condição.
O diagnóstico da hipercolesterolemia familiar é fundamental para interromper a cadeia de transmissão genética e instituir o tratamento precoce. Ele é baseado em critérios clínicos e laboratoriais, podendo ser confirmado pelo teste genético.
Exames físicos e laboratoriais são de suma importância para a suspeita do diagnóstico. Realizar uma análise clínica para saber o histórico familiar do paciente também é válido, uma vez que a condição é genética. Sempre que o médico considerar necessário, exames de imagem também poderão ser solicitados para analisar se há dano cardiovascular.
O diagnóstico precoce é a chave para a prevenção. Identificar a condição na infância ou na adolescência permite o início imediato de medidas terapêuticas, que podem adiar ou mesmo evitar o aparecimento de doenças cardíacas.
O perigo central da HF reside nas consequências do colesterol alto mantido por décadas sem o devido tratamento. O LDL-C em excesso no sangue tem uma forte tendência a se infiltrar na parede das artérias, um processo conhecido como aterosclerose. Lá, ele oxida e desencadeia uma resposta inflamatória, levando à formação de placas de gordura (ateromas).
Essas placas de gordura tornam as artérias endurecidas e estreitas, dificultando a passagem do sangue. Conforme as placas crescem, elas podem obstruir gravemente o fluxo sanguíneo para órgãos vitais.
Se uma placa se rompe, pode formar um coágulo (trombo) que bloqueia completamente a artéria. Dependendo da artéria afetada, as consequências são:
Na HF heterozigótica, o risco de um evento cardiovascular é considerado 20 vezes maior em pessoas com 20 a 39 anos, em comparação com a população geral. Na forma homozigótica, infartos podem ocorrer já na primeira ou segunda década de vida.
O tratamento da HF é vitalício e tem como objetivo principal reduzir os níveis de colesterol LDL para metas específicas, minimizando o risco de eventos cardiovasculares. Uma abordagem multifacetada é considerada a mais eficaz.
O ideal é unir:
Terapia medicamentosa é a pedra angular do tratamento da HF e pode englobar diferentes tipos de prescrições, tais como:
Para pacientes com HF homozigótica, procedimentos como a LDL-aférese (uma “limpeza” do sangue para remover fisicamente o LDL-C) podem ser necessários. Além disso, novas terapias gênicas estão em estudo, representando uma esperança futura para um controle ainda mais efetivo.
A adesão rigorosa ao tratamento não só prolonga a vida como também impacta profundamente a qualidade de vida do paciente, permitindo que ele viva com mais saúde e menos medo de complicações debilitantes.
A Hipercolesterolemia Familiar é uma condição séria, subdiagnosticada, mas perfeitamente tratável. Ela vai muito além de um simples “colesterol alto”, sendo uma doença genética que exige atenção, conhecimento e ação contínua.
O reconhecimento do histórico familiar, a suspeita clínica diante de níveis elevados de LDL-C e a busca pelo diagnóstico precoce, inclusive por meio do teste genético, são passos cruciais.
O tratamento agressivo e precoce, combinando medicamentos modernos e mudanças no estilo de vida, é a ferramenta mais poderosa para prevenir a formação de placas de gordura e, consequentemente, o desenvolvimento de doenças cardíacas prematuras.
Investir no diagnóstico e manejo da HF é investir em décadas de história com melhor qualidade de vida para milhares de indivíduos e suas famílias.
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