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Endocardite infecciosa: o que é, diagnóstico e tratamento adequado

Endocardite infecciosa é uma inflamação grave do endocárdio, que envolve as válvulas cardíacas, e pode ter origem bacteriana ou fúngica. Essa condição pode ocorrer em pessoas com válvulas consideradas normais, mas é muito mais comum em pacientes com doenças cardíacas estruturais, como são os casos de cardiopatias congênitas ou usuários de dispositivo cardíaco, como próteses valvares.

Além disso, a endocardite infecciosa tem uma taxa de mortalidade significativa que varia de 15% a 30%, a depender do agente causador e das condições de saúde do paciente. Vale ressaltar que uma endocardite infecciosa, quando não tratada, pode ser fatal na maioria dos casos, por isso a importância de realizar o tratamento indicado pelo médico de forma minuciosa e sem negligenciar nenhuma etapa.

Entendendo a endocardite infecciosa

A endocardite pode ser infecciosa ou não-infecciosa. No caso da modalidade infecciosa, nos deparamos com uma doença muito grave e que é causada por microrganismos que entram na corrente sanguínea do indivíduo e se instalam em partes danificadas do revestimento interno do coração (endocárdio), bem como em válvulas cardíacas que já estejam defeituosas, nas grandes artérias e em próteses instaladas.

Dessa forma, ocorre uma grande infecção na área do coração, podendo afetar não só o próprio órgão, mas desencadear um problema ainda maior e mais grave ao afetar outros órgãos.

Sintomas da endocardite infecciosa

A doença se torna ainda mais delicada, pois tem sintomas semelhantes aos de uma série de outras enfermidades. Por conta disso, é comum que pacientes pensem se tratar de outra coisa e só procuram um hospital quando estão em situação mais grave e complicada.

Para quem está em um grupo de risco, qualquer sintoma fora do estado normal deve ser motivo suficiente para procurar ajuda médica e evitar um problema irreversível.

Vejamos agora os principais sintomas de endocardite infecciosa:

  • Dor na musculatura, peito e articulações;
  • Febre alta repentina, podendo ou não estar associada a
  • Calafrios e suor noturno;
  • Fadiga intensa e sem motivo conhecido;
  • Pernas, abdômen e pés inchados;
  • Esplenomegalia (aumento do baço);
  • Nódulos de Osler, que são nódulos macios ao toque e localizados nas pontas dos dedos dos pés e das mãos;
  • Manchas roxas ou avermelhadas, ainda que pequenas, pelo corpo, inclusive, pode aparecer na parte branca do olho;
  • Surgimento de sopro cardíaco ou aumento de um sopro já existente;
  • Manchas de Roth, que são hemorragias nos olhos.

Outros sintomas podem estar associados ao problema, porém aqui citamos os mais comuns relatados por pacientes em consultório.

É importante tomar muito cuidado com os casos de endocardite bacteriana subaguda, pois ela pode se desenvolver por semanas ou meses e por ter sintomas muito parecidos com outras condições, corre o risco de ser negligenciada e com isso a doença evoluir de forma irreparável.

Causas da endocardite infecciosa

Uma endocardite infecciosa pode ser causada por diferentes microrganismos de origem bacteriana ou fúngica. Os principais microrganismos causadores da endocardite infecciosa são:

  • Estreptococos (especialmente Streptococcus viridans), que são responsáveis pela maioria dos casos de endocardite infecciosa.
  • Staphylococcus aureus, que são mais comuns em usuários de drogas injetáveis e portadores de próteses valvares.
  • Enterococos e bactérias do grupo HACEK, podendo acometer pacientes com doença cardíaca prévia ou que façam uso de válvula cardíaca.
  • Fungos (como Aspergillus e Candida ), representando casos mais raros, porém mais graves. Os fungos dão origem a endocardite fúngica, que por sua vez afetam válvulas cardíacas e a camada interna do coração.

Fatores de risco para endocardite infecciosa

Alguns pacientes estão mais predispostos a uma endocardite infecciosa ou possuem maior risco de desenvolver a condição. Os principais fatores de risco para endocardite incluem:

  • Doenças cardíacas preexistentes, como valvulopatias,
  • Cardiopatias congênitas (ex.: tetralogia de Fallot) e uma degeneração valvar.
  • Presença de prótese valvar, o que aumenta o risco em até 1% ao ano.
  • Uso de dispositivos cardíacos, tais como marca-passo e cateteres venosos centrais).
  • Práticas invasivas como procedimentos cirúrgicos e extrações dentárias sem a devida profilaxia.
  • Uso de droga injetável, o que facilita a entrada de bactérias na corrente sanguínea e pode ser fatal.

Diagnóstico

Para se obter o diagnóstico, o médico pedirá uma série de exames de imagem e laboratoriais após realizar o exame físico e a análise do histórico do paciente. O diagnóstico segue os Critérios de Duke, que incluem:

  • Evidência de alguma lesão cardíaca (vegetações, abscessos) nos exames de imagem.
  • Hemoculturas positivas para microrganismos típicos da doença.

Exames necessários

Esses são alguns exames que se julgam necessário para investigação da doença. Se aconselhar com o seu médico cardiologista, é sempre a melhor opção. Os principais exames são:

  • Ressonância magnética.
  • Ecocardiograma transtorácico (ETT): capaz de identificar vegetações ≥ 2 mm, embora possua sensibilidade limitada.
  • Ecocardiograma transesofágico (ETE): mais eficiente e preciso para detectar complicações, como abscessos ou endocardite em próteses.
  • Tomografia computadorizada (TC): Útil ao avaliar embolias sistêmicas.
  • Exames de sangue.

O Guideline for the Management of Infective Endocarditis recomenda o ETE em todos os casos suspeitos, especialmente em pacientes com próteses valvares.

Além disso, o posterior tratamento após o diagnóstico deve incluir ação multidisciplinar com cardiologistas, cirurgiões cardiovasculares, especialistas em imagem, microbiologistas e especialistas em doenças infecciosas.

Tratamento

O tratamento de endocardite infecciosa é prolongado, durando de 4 a 6 semanas, mas o tempo total depende sempre do tipo de microrganismo que originou o problema e da condição de saúde do paciente como um todo. O tipo de terapia medicamentosa a ser adotada no tratamento vai depender da causa.

Por exemplo: casos originários de estreptococos, geralmente são tratados com gentamicina e penicilina, mas bactérias gram-negativas precisarão de outros medicamentos para serem combatidas, e preferencialmente, o quanto antes possível, para evitar resistência ao antibiótico.

Por ser necessárias doses elevadas de antibióticos, quase sempre a única forma de tratamento será em ambiente hospitalar, pois os medicamentos serão administrados por via intravenosa.

Uma intervenção cirúrgica pode ser necessária em casos que houve algum dano as válvulas e função cardíaca, bem como quando houver:

  • Diagnóstico de endocardite fúngica ou que a enfermidade foi causada por bactérias multirresistentes.
  • Abscessos ou infecção persistente.
  • Insuficiência cardíaca grave decorrente de destruição valvar.

Como as bactérias da boca entram na corrente sanguínea

Todo procedimento dentário desencadeia fatores de bactérias na corrente sanguínea. Isso porque desde os cuidados básicos do dia a dia até os mais invasivos tratamentos realizados em consultório odontológico podem gerar pequenos sangramentos na gengiva.

Ainda que pareça inofensivo, a verdade é que esse sangramento em uma boca que não tem o cuidado adequado de higiene fará com que bactérias entrem na corrente sanguínea através desse pequeno ferimento, que pode ter sido causado, inclusive, por um atrito na hora de passar o fio dental ou um pequeno acidente com a escova de dentes durante a higiene diária.

As bactérias que entram na corrente sanguínea são as que já vivem naturalmente na cavidade da boca, mas não causam nenhum problema, desde que não estejam em ambiente hostil e com uma porta de entrada para outras partes do corpo, como ferimentos na boca.

Quando essas bactérias conseguem entrar na corrente sanguínea, se instalam em partes já danificadas do endocárdio, e assim vão se multiplicando e piorando o processo infeccioso.

Outra forma das bactérias terem acesso a corrente sanguínea é na realização de outros procedimentos que não possuem origem odontológica, tais como remoção de adenoides e amígdalas, cirurgias do aparelho urinário e gastrointestinal, bem como a necessidade de fazer uso de de broncoscópio rígido, instrumentos que visem enxergar o interior da bexiga, bem como exames e procedimentos no aparelho gastrointestinal.

Por fim, o uso de agulhas não esterilizadas corretamente ao fazer tatuagens e do uso de drogas injetáveis são portas de entrada para bactérias que podem tanto adoecer como custar a vida do paciente.

Prevenção da endocardite infecciosa

Por muito tempo o uso de antibióticos antes de procedimentos odontológicos era recomendado, entretanto, a American Heart Association (Associação Americana do Coração) passou a recomendar a profilaxia antibiótica antes de procedimentos cirúrgicos ou odontológicos apenas em pacientes de alto risco, como:

  • Pessoas com histórico prévio de endocardite.
  • Pacientes que possuem cardiopatias congênitas mais complexas.
  • Pacientes que possuem próteses valvares.

De uma forma geral, uma boa forma de prevenir uma endocardite infecciosa, seja em pacientes saudáveis ou do grupo de risco, é manter uma higiene bucal o mais rigorosa possível, a fim de reduzir significativamente bactérias.

Além disso, também é necessário controlar infecções em usuários de drogas injetáveis (melhor ainda se o paciente decidir se reabilitar para largar o vício), e evitar que pacientes do grupo de risco realizem tatuagens ou coloquem piercings.

De uma forma geral, uma boa forma de começar a tratar o coração, seja prevenindo o aparecimento de problemas, ou evitando complicações de condições pré-existentes, é tendo uma saúde bucal satisfatória. Por isso, é importante escovar os dentes pelo menos três vezes ao dia e tratar eventuais problemas bucais existentes.

Hoje em dia, até mesmo quem não tem condições financeiras de arcar com tratamento odontológico pode buscar amparo do SUS, que tem atendimento primário em unidades básicas de saúde, clínicas e hospitais públicos que atendem essa especialidade, garantindo a prevenção de uma série de problemas de saúde que começam pela boca.

Outro ponto preventivo e ainda ligado a saúde bucal é evitar ao máximo a ingestão de açúcares, e quando o fizer, sempre escovar muito bem os dentes. No caso de gengivas avermelhadas e sangrando, ainda que não perceba nenhuma diferença ou incomodo nos dentes, se faz necessário buscar atendimento de um dentista de confiança ou de uma unidade de saúde.

Por fim, mas não menos importante, para fugir de problemas cardíacos e muitos outros, abandonar o fumo é de suma importância.

Complicações e Prognóstico

É preciso ter em mente que a endocardite infecciosa é uma doença mortal, e negligenciar ou abandonar o tratamento pode ser fatal. Quando a endocardite infecciosa evolui sem que o paciente esteja recebendo o tratamento adequado, ele não só passa a ter tecidos destruídos, como desenvolve êmbolos sépticos que podem ser levados pela corrente sanguínea.

Se isso acontecer, esse êmbolos vão se espalhar no organismo e alcançar órgãos vitais, tais como os pulmões, o cérebro e os até os rins. O paciente então passa a correr enorme risco de sofrer um AVC, embolia pulmonar e uma insuficiência renal aguda, o que coloca sua vida em risco e nem sempre é possível reverter o quadro.

Em resumo, as complicações de uma endocardite infecciosa incluem:

  • Embolias sistêmicas (como AVC e infartos esplênicos).
  • Abscessos cerebrais ou do miocárdicos.
  • Insuficiência cardíaca (a principal causa de morte).

O prognóstico depende do diagnóstico precoce e tratamento adequado. A mortalidade pode chegar a 40% em casos de Staphylococcus aureus, bem como em infecções de próteses. A demora para buscar atendimento ou não seguir o tratamento da forma correta também aumenta o risco de complicações e mortalidade.

Recapitulando o que é endocardite infecciosa

A endocardite infecciosa é uma doença muito grave, mas seu manejo melhorou com diretrizes como as da Society of Cardiology ESC e American Heart Association. O diagnóstico precoce (baseado nos Critérios de Duke), o tratamento antibiótico prolongado e a intervenção cirúrgica, quando necessária, são essenciais para reduzir complicações e preservar a vida do paciente.

Além disso, a profilaxia em grupos de risco e o controle de fatores de bactérias na corrente sanguínea são fundamentais para a adequada prevenção. A prevenção certamente é o melhor remédio para uma endocardite infecciosa e começa de forma simples: pela boca.

Adotar bons hábitos de higiene bucal com a escovação diária já reduz consideravelmente os riscos dessa e de outras enfermidades associadas a problemas que começam pela boca do paciente. Visitar um dentista pelo menos uma vez ao ano para realizar limpeza e procedimentos necessários também garante uma boca e uma saúde muito mais saudável.

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