Miocardiopatia dilatada: o que é e como tratar?
Miocardiopatia dilatada é uma condição cardíaca grave e uma das formas mais comuns de cardiomiopatia. Caracterizada principalmente pela dilatação (alargamento) das câmaras cardíacas e pela perda progressiva da força de contração, essa doença representa um desafio significativo para a saúde pública.
O coração, que funciona como uma bomba eficiente, vê sua capacidade comprometida, levando a uma série de complicações que impactam profundamente a qualidade e a expectativa de vida do paciente.
O que é a miocardiopatia dilatada
Em sua essência, a miocardiopatia dilatada é uma doença do músculo cardíaco. O termo “miocardiopatia” significa “doença do músculo do coração” (miocárdio), e “dilatada” refere-se ao seu aspecto mais marcante: o alargamento das paredes do coração, sobretudo do ventrículo esquerdo, que é a câmara responsável por bombear o sangue rico em oxigênio para todo o corpo.
Esse processo de dilatação e enfraquecimento faz com que o coração perca a sua capacidade de se contrair com força suficiente. Consequentemente, o órgão não consegue ejetar o volume adequado de sangue a cada batimento, um parâmetro medido pela “fração de ejeção”. Esse é o mecanismo primário que leva ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca, uma síndrome clínica complexa onde o coração não supre as demandas metabólicas do organismo.
Embora seja uma doença grave, os avanços significativos na terapia medicamentosa e nos dispositivos cardíacos melhoraram drasticamente o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes.
Causas e fatores de risco
A miocardiopatia dilatada pode ser classificada como idiopática (quando a causa é desconhecida) ou ter uma origem específica identificável. Saber a causa impacta na forma como ocorrerá o tratamento do paciente. As principais causas da cardiomiopatia dilatada são:
- Genéticas: em uma parcela significativa dos casos, há um componente hereditário. Mutações em genes que codificam proteínas essenciais para a estrutura das células musculares cardíacas podem ser transmitidas entre gerações.
- Causas Infecciosas: infecções virais (como por Coxsackievírus, Adenovírus e, mais recentemente, associada à COVID-19) podem desencadear uma miocardite – uma inflamação do músculo cardíaco – que, ao se resolver, deixa para trás um quadro de cardiomiopatia dilatada.
- Tóxicas: o consumo excessivo e crônico de álcool é uma causa presente em muitos diagnósticos. Certas drogas ilícitas, como a cocaína, também podem causar danos severos.
- Doença Arterial Coronariana: isquemias repetidas (falta de oxigênio no músculo) devido a obstruções nas artérias coronárias podem levar a um enfraquecimento global do coração, mimetizando a miocardiopatia dilatada.
- Taquimiocardiopatia: arritmias cardíacas muito rápidas e sustentadas podem, com o tempo, “esgotar” o músculo cardíaco, levando à sua dilatação e disfunção.
- Causas Relacionadas à Gravidez (Miocardiopatia Periparto): a doença pode se desenvolver no último mês de gestação ou nos primeiros meses após o parto, sem uma causa clara identificada.
- Outras Causas Conhecidas: doenças endócrinas (como tireoideopatias), deficiências nutricionais graves (como beribéri) e o uso de certos medicamentos de quimioterapia (ex.: doxorrubicina) também estão na lista de possíveis agentes causadores, embora não sejam fatores determinantes para um diagnóstico.
Sintomas da miocardiopatia dilatada
Os sintomas da miocardiopatia dilatada são, em grande parte, os mesmos da insuficiência cardíaca congestiva, decorrentes do baixo débito cardíaco e do acúmulo de líquidos (congestão) no organismo. Os sintomas mais comuns em adultos incluem:
- Fadiga e Cansaço Extremo;
- Dispneia (Falta de Ar mesmo durante o repouso quando a doença evolui);
- Edema (Inchaço);
- Tosse Seca e Persistente;
- Palpitações;
- Perda de Apetite e Saciedade Precoce.
Além desses sintomas debilitantes, complicações sérias podem ocorrer. A dilatação e o remodelamento do coração criam um ambiente propício para a formação de arritmias, tanto ventriculares quanto supraventriculares. As arritmias ventriculares são uma causa temida de morte súbita nesses pacientes.
Outras complicações incluem a formação de coágulos sanguíneos (trombos) dentro das câmaras cardíacas dilatadas e paradas, que podem se desprender e causar embolias (como um AVC embólico), além da piora progressiva da própria insuficiência cardíaca.
Diagnóstico da miocardiopatia dilatada
O diagnóstico da miocardiopatia dilatada é feito por uma combinação da avaliação clínica minuciosa com uma série de exames complementares. O médico, geralmente um cardiologista, inicia com a anamnese e o exame físico, onde pode auscultar sopros cardíacos e identificar sinais de congestão pulmonar e edema.
Os exames fundamentais são:
- Ecocardiograma;
- Eletrocardiograma (ECG);
- Radiografia de Tórax;
- Ressonância Magnética Cardíaca;
- Exames de Sangue;
- Cateterismo Cardíaco e Biópsia Endomiocárdica.
Tratamento da miocardiopatia dilatada
O tratamento da miocardiopatia dilatada tem como objetivos principais controlar os sintomas, impedir a progressão da doença, prevenir complicações como a morte súbita e melhorar a sobrevida. A abordagem é multimodal, envolvendo mudanças no estilo de vida, terapia medicamentosa e, em casos selecionados, dispositivos cardíacos e transplante.
Além disso, o tratamento pode variar de acordo com a descoberta do que foi a causa da doença no paciente.
Tratamento medicamentoso
A base farmacológica é a mesma para a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, o que pode incluir: inibidores da ECA ou BRA, betabloqueadores, antagonistas de mineralocorticoides, diuréticos, inibidores de SGLT2 (Gliflozinas).
Dispositivos cardíacos eletrônicos
- Cardioversor-Desfibrilador Implantável (CDI): Indicado para pacientes com alto risco de morte súbita por arritmias ventriculares malignas.
- Terapia de Ressincronização Cardíaca (TRC): Utiliza um marca-passo especial para corrigir a falta de sincronismo entre o ventrículo esquerdo e o direito, comum nesta doença, melhorando a eficiência do bombeamento.
Mudanças no estilo de vida
São fundamentais e incluem restrição rigorosa de sal na dieta, limitação da ingestão de líquidos, abstinência de álcool e tabaco, prática de atividade física supervisionada e controle de peso.
Transplante cardíaco
Para um pequeno grupo de pacientes com doença terminal, refratária a todas as outras formas de tratamento, o transplante cardíaco permanece como a única opção curativa.
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