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Takotsubo (Síndrome do Coração Partido): entenda mais essa patologia

Síndrome do coração partido é um tipo de disfunção cardíaca que acomete uma pessoa que passou por um impacto emocional forte, como situações de estresse.Geralmente associado a experiências negativas, como a dor do luto, uma crise financeira ou o término de um relacionamento, a síndrome do coração partido decorre do excesso de adrenalina no individuo acometido.

Essa descarga de adrenalina no coração desencadeia sintomas muito parecidos ao de um infarto. A American Heart Association definiu que a síndrome do coração partido é uma cardiopatia adquirida primária. É uma condição que representa de 1% a 2% dos casos de síndrome coronariana aguda.

A condição também é conhecida na literatura médica como síndrome de Takotsubo e cardiomiopatia de estresse. A denominação Takotsubo tem raízes na cultura japonesa, derivando de um artefato de pesca tradicional — uma armadilha para polvos (tako = polvo) — cujo formato se assemelha à aparência do coração afetado no exame de ecocardiograma.

O pesquisador japonês Sato já havia relatado essa síndrome em seus estudos.

No entanto, relatos anteriores já descreviam pacientes que, sob extrema carga emocional, desenvolviam sintomas cardíacos sem causa física ou trauma evidente. O marco definitivo para o reconhecimento da síndrome ocorreu em 2004, após um violento terremoto no Japão.

Observou-se um surto de casos, especialmente entre habitantes das regiões próximas ao epicentro do terremoto, consolidando-a como Síndrome de Takotsubo ou Síndrome do Coração Partido.

Em 2005, sua existência foi oficialmente validada pelo prestigiado New England Journal of Medicine, e passou a ser adotada cientificamente em todo o mundo.

Qual a relação de um problema cardíaco com as emoções

Os distúrbios emocionais podem efetivamente causar alterações físicas no coração, provocando disfunções como a contração inadequada dos ventrículos. Quando o organismo está sob estresse emocional intenso, pode manifestar sintomas que simulam um infarto do miocárdio.

Em situações de intensa carga emocional, ocorre um aumento na produção de adrenalina e outros hormônios do estresse pelas glândulas adrenais. Essa liberação hormonal excessiva na corrente sanguínea pode levar a um estreitamento temporário das artérias coronárias, comprometendo o fluxo sanguíneo para o coração e, consequentemente, afetando o seu funcionamento normal.

A síndrome do coração partido representa precisamente essa desarmonia momentânea na função cardíaca, caracterizando-se como uma paralisia transitória do ventrículo esquerdo (left ventricular). Essa condição reduz temporariamente a capacidade do coração de bombear sangue adequadamente para o organismo.

Diante dessa sobrecarga, o corpo reage imediatamente, produzindo sintomas muito semelhantes aos de um infarto agudo do miocárdio (do inglês Acute Myocardial Infarction). O coração, submetido a esse impacto emocional, sofre uma debilitação temporária em sua função.

A síndrome do coração partido ganhou maior destaque nos debates médicos durante a pandemia de Covid-19. Esse aumento de atenção ocorreu em virtude das significativas mudanças sociais, sanitárias e econômicas enfrentadas pela população mundial em decorrência da crise sanitária.

Muitas pessoas começaram a desenvolver a condição, sobretudo, durante a quarentena, em que o contato social precisava ser evitado e isso mexeu com o psicológico de muita gente, uma vez que já havia o medo de um vírus até então desconhecido e que podia ser mortal.

Como é o mecanismo da síndrome do coração partido

A cardiomiopatia induzida por estresse ou simplesmente síndrome do coração partido apresenta-se como uma disfunção sistólica regional transitória, com predomínio no ventrículo esquerdo (VE).

Embora seus sintomas e alterações eletrocardiográficas possam mimetizar uma síndrome coronariana aguda (SCA), diferencia-se pela ausência de obstruções ateroscleróticas nas artérias coronárias – que se mantêm patentes sem evidências de placas ou rupturas.

Pesquisas realizadas na Itália, Alemanha e Reino Unido indicam que a síndrome corresponde a 1-2% dos casos com suspeita de SCA (pacientes com elevação de troponina e/ou supradesnivelamento do segmento ST).

Acomete predominantemente mulheres idosas, sugerindo influência de fatores vasculares e hormonais, como a menopausa.

A possível associação com histórico familiar ainda carece de evidências robustas, uma vez que os estudos disponíveis são limitados em tamanho amostral e metodologia. Assim, embora essa variável possa ser considerada na avaliação individual, não há consenso na literatura médica para sua inclusão como critério diagnóstico.

Sintomas da síndrome do coração partido

Os sintomas dessa condição são bem semelhantes ao de um infarto, sendo eles:

  • Dificuldade para respirar;
  • Aperto no peito;
  • Arritmias;
  • Dificuldade para dormir;
  • Cansaço excessivo;
  • Dor de estômago e falta de apetite;
  • Tristeza, depressão ou raiva;
  • Vômitos e tonturas.

Geralmente os pacientes relatam sentir alguns sintomas cumulados, o que facilita para que busquem ajuda médica e descubram a real causa do problema.

É importante destacar que, na maioria dos casos, a disfunção microvascular tende a regredir naturalmente, sem a necessidade de intervenção terapêutica específica, sendo momentânea.

Contudo, requer especial atenção o potencial surgimento de complicações graves associadas à condição, incluindo:

Tais complicações constituem emergências médicas que demandam tratamento hospitalar imediato. A síndrome do coração partido apresenta uma duração variável entre uma semana e um mês, caracterizando-se por um curso clínico benigno e prognóstico bastante positivo, uma vez que não costuma causar danos cardíacos permanentes.

Embora a maioria dos casos evolua favoravelmente, existem relatos isolados de desfechos fatais associados à condição.

Prevenção e cuidados com a síndrome do coração partido

A prevenção eficaz da síndrome do coração partido requer uma abordagem integrada que combine cuidados físicos e emocionais. Estudos comprovam que a prática regular de exercícios físicos desempenha um papel fundamental no gerenciamento do estresse, reduzindo significativamente a sobrecarga cardíaca.

Atividades mente-corpo como meditação, yoga, exercícios físicos e caminhadas moderadas demonstraram ser particularmente benéficas, promovendo simultaneamente equilíbrio emocional e saúde cardiovascular.

Complementarmente, o acompanhamento médico regular com um cardiologista, incluindo exames periódicos, constitui uma medida preventiva indispensável para a manutenção da saúde cardíaca.

Vale destacar que esta condição, também conhecida como cardiomiopatia por estresse, resulta essencialmente de uma disfunção cardíaca temporária provocada por uma liberação excessiva de adrenalina na corrente sanguínea – frequentemente desencadeada por eventos emocionais intensos.

Diante dessa fisiopatologia, torna-se evidente que, além dos cuidados físicos, o suporte psicológico profissional é componente essencial no enfrentamento de traumas ou situações de forte impacto emocional, completando assim o círculo virtuoso da prevenção integral.

Diagnóstico da síndrome do coração partido

O prognóstico geralmente é favorável, com recuperação completa da função cardíaca ocorrendo em cerca de três semanas na maioria dos casos. Durante a fase aguda, recomenda-se a internação do paciente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), preferencialmente em Unidade Coronariana quando disponível.

Não existe terapia medicamentosa específica para a síndrome. O tratamento consiste em:

  • Monitorização contínua do ritmo cardíaco, saturação de oxigênio e pressão arterial;
  • Suporte ventilatório (conforme necessidade clínica), cateter nasal de oxigênio, ventilação não invasiva (VNI), e intubação orotraqueal (em casos graves).

Manejo de complicações

Insuficiência cardíaca ventricular esquerda: tratamento conforme protocolos estabelecidos.

Observação: A conduta é essencialmente de suporte, visando manter a estabilidade hemodinâmica enquanto ocorre a recuperação espontânea da função miocárdica.

Fatores de risco da síndrome do coração partido

A cardiomiopatia desencadeada por estresse pode manifestar-se em indivíduos de qualquer faixa etária, especialmente nos dias atuais que possuem rotinas e acontecimentos tão estressantes.

Entretanto, aproximadamente 90% dos casos ocorrem em mulheres com mais de 50 anos que se encontram no período pós-menopausa.

Pesquisadores sugerem que essa maior vulnerabilidade está relacionada à diminuição dos níveis de estrogênio – hormônio que exerce função protetora sobre o endotélio vascular, entre outras ações fisiológicas.

Outros grupos vulneráveis incluem:

  • Indivíduos da terceira idade;
  • Pacientes com distúrbios neurológicos (como traumatismo craniano ou epilepsia);
  • Portadores de condições psiquiátricas (incluindo transtornos de ansiedade e depressão).

Esta condição cardíaca temporária pode ser precipitada por eventos emocionais intensos ou estresse físico significativo em pessoas com esses perfis de risco.

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